09 dezembro 2011

Um dia especial


Por mais importante que pareça, perda de sono ou ansiedade que carreguem, o tempo destrói os encantos mudando de vez  gostos e realidade.

Maria Cristina acordou cedo depois de uma noite nem dormida; passara sonhando com o momento de usar o "coutil branco" que prometia deixa-la  com cinturinha de marimbondo. A mãe, vindo do Rio, trouxe um lindo chapéu de feltro, debruado em tufos de tafetá presos por um discreto broche de penas pretas. Hoje ela fará 15 anos - única das filhas a chegar a tanto: Maria Eugênia morrera pela espanhola e Maria Eudóxia por uma febre intermitente. Eram muitos os presentes a esperar nos pés da cama:  vestido de veludo bege, colete de piqué claro e botas com botões de pelica, tantos que na emoção  nem percebera... o calor que prometia. A festa começará cedo, quem sabe ali um pretendente - a mãe queria um moço simples, o pai o  filho do intendente. Passara bem no curso  de asseio,  das flores  os mais belos arranjos. Júlia Lopes lhe ensinara os caldos, que deixava para o irmão quando voltava dos Correios. Chove tanto em Porto Alegre que talvez alguns se atrasem, outros provável não cheguem, muitos, nesta enchente, nem venham.
Psicografado por Guaraúna.

Um comentário:

Marcelo Freda Soares disse...

Antes que digam que ando incorporando, a anotação de psicografia é uma brincadeira e faz parte do texto.