14 setembro 2009

Segunda

Então, ou caminho sem rumo, ou fecho as janelas e esqueço que é dia. Síndrome de segunda-feira e nada como um iniciar de semana atrás do outro para perceber que a vida é um ciclo, melhor, um círculo, que se repete e não se fecha.

Acho graça das pessoas que vestem a primeira coisa que vem pela frente, mas, de onde sairam aqueles sapatos de cor lilás? Nada parecia combinar naquela composição de rua, e prendo o olhar em detalhes como as meias claras salientando o mau gosto dos passantes e dos calçados. Quando estou assim, tenho atração ao feio. Da menina pendurada, mais do que o carinho da mãe que corre atrasada, da roupa que sufoca de tão apertada, me chama o ranho, seco e pendurado, como cascas de falta de higiene dizendo: sou mal cuidada. Até os cães me aborrecem, passam a noite ao relento e no fundo, bem no fundo, acho que merecem. O mesmo pensar dos pedintes, dos jornaleiros que estão desde cedo acordados, dos que não despertaram por ressaca, os soltos e desamparados.

Hoje é segunda-feira, não há poesia fora do inusitado.

O sol não combina. Como, sob o calor, vestir um casaco. Mas vagueio mais um pouco, a busca do que não sera encontrado.

08 agosto 2009

Jardim de Inverno

Quando não havia maiores perigos...

Deixei a porta aberta.

Adoro o muro vazado que permite que o vento assovie enquanto consigo ver quem passa e se aproxima. A grama neste jardim tem cheiro de tempero e a terra escura a textura de um carinho. O espaço é pequeno mas cabe boa parte do meu imenso mundo, cavo um buraco para esconder o meu futuro. Umas moedas, uma foto com minha família, um recorte de jornal e um frasco de remédio. Forro com a relva recortada em bloco esperando que as raizes envolvam e preservem para muito este tempo.

Que entre, apenas quem me interessa.

O sorriso de minha mãe é terno e verdadeiro, mais sincero que a memória distraida, o cuidado dos meus fizeram que eu chegasse até aqui, com todas as qualidades e angustias que moldaram minha vida. Tenho irmãos e agradeço por isso. Um, pelo menos, dividirá este pensamento. Não voltei ao jardim nem descobri meus preservados. As moedas foram poucas e não vingaram em frondosa arvore da fortuna, o remédio no entanto é desnecessário, e as noticias são efêmeras como a importância de datas. O muro deixa que passe a noção de tempo e sibila a nostalgia pemitindo que veja quem me precede.

Quando não havia maiores perigos, deixei a porta aberta, para que entrasse, apenas quem me interessa.

28 janeiro 2009

Inconciente

Prefiro não comentar meus pequenos enganos, nem os maiores, mas eles estão ai, por todos os lados.

Nem todos que me escutam são interlocutores do que chamo: pensamentos soltos, mas sofro pela crítica de um comportamento livre, como se fosse dissociado do que eles mesmos, de mim, esperam. Fazer o que? Aceitar que penso mais rápido do que atuo ou devo partir para o enfrentamento do que não me aceitam? Quem sabe, apenas não dar atenção, deixar que o tempo cumpra seu destino, porque vai ser assim, gasta-lo para questões maiores como... Sobrevivência.

Ainda sobre enganos. Cometi vários. Desde o nascimento, quando esperavam um choro breve, mas não me joguei de cabeça, e entalei na vagina parideira até que me tirassem a fórceps para ver o que me esperava. Depois, fui o único com olhos sensíveis a luminosidade intensa, e passei a enxergar franzido. Acho, também, que por isso, ficar entocado observando a tudo pelas frestas e janelas, era mais confortável, assim, conheci as coisas e as pessoas, sempre pelos pedaços, desviei meu desejo aos entrecortados, incompletos e mal iluminados. Fiz de riscos meus primeiros amigos, dos mais íntimos até os amores. Levei tempo para conseguir juntar pedaços como traços de hachuras, a definir mais claro o que seria luz, meio tom ou sombras.

Houve época de gritar, mesmo sem para onde. Quem por paredes grossas de ensinamento rígido escutaria além do som das palavras mais audazes que retornavam como velhos e fracos sentidos. O diálogo no rochedo é monótono e repetitivo. Mas soltei a voz no vazio da volta, inútil volta.

Entre o erro e o diálogo, escolho o silêncio da escrita, esta, que, a menos que não seja lida, chega certo apenas a quem importa, sem eco ou traços incompletos que o inconsciente trata de reunir e dar sentido.

14 janeiro 2009

Psicoanalise

Uma das sugestões foi de desmontar um elevador, não entendi, mas junto havia a possibilidade de fotografar, fazer um boa comida, voltar a academia. Qualquer coisa para ocupar a cabeça e afastar os pensamentos repetitivos, repetitivos, repetitivos. Agora tenho dois comprimidinhos que me acompanham, um branco e outro roseado. O primeiro agita, o segundo acalma, e assim pretendo ter a paciencia necessária para suportar a espera. Pelo menos, o dia não me parece cinza, nem escuto réquiem em meu mp4, mas ta custando a ter um sol que dure mais do que poucos minutos. Daí este guarda-chuva estranho.

Sentei de pernas abertas, da forma que seria imprópria pelos costumes que fui moldado. Não sei se seria melhor estar ou não de olhos congestos, poderia passar idéia de tranquilidade, e afinal estava esperando para ser consolado, mas se notasse tamanho sofrimento poderia magoar a quem consola em tantos anos de entendimento. 

Fui em dois, meio esquisofrênico, e não sei se meu lado melhor foi o que se manifestou o foi o que ficou de companheiro. Consegui resumir os fatos, estava com problemas que iam desde o sono atrasado até o plexo corióide. Cansado de sonhar queria poder dormir, cheio de tentar queria finalmente agir. 

E agi. Antes procurei a mãe amada na figura da esposa perdida, nas recompensas da memória alterada pelas mais recentes instabilidades, virei santo, excluido o celibato, virei um pai, modelo, pobre, mas  dedicado.
Revirei os estandartes sem achar a  beatice, exonerando os diabos com seus pactos e artífices.

Há um tempo, quando propuseram alta, ouvi um coro de dúvidas e indignidades, era como uma mãe a abandonar o filho, um espelho a proibir imagem. Gostei da piada fora de hora, da fala perdida e da risada. Gostei de ter sido comparado a um mito e mesmo de pernas inadequadas manter-me em equilíbrio.

Complexo como a ilusão da morte, sigo buscando o caminho e a saída. Falo, e me repito, repito, repito e me repito, até um dia poder, por mim, ser entendido.