05 dezembro 2011

Atemporal



Bastou entrar para identificar: "Madeiras do  Oriente"- o perfume que usava minha avó durante sempre;  daí nada mais seria   necessário para que uma viagem nostálgica tivesse prosseguimento. No entanto, de um canto do pequeno quarto, levando distante a  voz da senhora que me chamara, e  em favor do apelo das imagens,  gritavam-me objetos esquecidos pelo tempo. Onde, além daquele cheiro, encontraria um antigo ventilador em aço,  em  tão bom estado, capaz de espalhar ares e aromas para envolver-me em velhas  memórias, ou, por quanto me aguardava num bule  aquecido, café, que  antes fingia não gostar, mas  que agora aprecio? Desprezo da mesa apenas os pequenos comprimidos coloridos que insinuam alguma doença - talvez o verdadeiro motivo para estar ali tão próximo - mas  preferi me deter em  lembranças saudáveis: nas tardes de trocas de afeição e companhia, nos momentos de  entendimento mútuo e dos conflitos segredados entre eu e outros deles.
Como na literatura, entendo que nasci um velho que precisou aprender, que apesar de complexa e  finita,  a vida é uma chance fugaz de aprendizado e rejuvenescimento. É na saudade de algo nem vivido, no olhar e na história de quem já passou por tanto,  que busco  sentir-me esperançoso. Depois, coberto de compreensão e em qualquer tempo, antes que esta situação se inverta,  faço o que ainda pode ser feito: escutar como um menino.

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