01 abril 2008

Despertar

Morri sem perceber.
Penso em abrir os olhos para confirmar, mas tenho dúvida. Visões antecedem o despertar, e confundo o frio intenso com o calor das últimos horas, terei que decidir desde a roupa que ora me abandona até se usarei meus óculos. Será que ainda enxergo ou somente sonho estas imagens que aguardo? Quero tocar de leve, e sentir, há um corpo aqui ao lado ou apenas um revirado? Invade um aroma sutil e agradável, agora até o eter quer reter na mistura sentido e matéria. Vou permanecer, mais um tempo, imóvel, afinal percebo-me inerte, rijo, embora leve. Meus pés se depositam sobre algo, os lábios que de sede salgo, a saliva do que me parece gosto alheio, é puro e pulsa coração e veia, mas se estou morto lateja apenas um desejado devaneio.
Morri sem perceber, e posso não estar só nesta passagem, será que devo liberar a vista? Flutuo numa conquistada realidade, liberto, caso fique confirmado o medo é falso e maltratado. Hesito, prefiro é acreditar nisso mas posso precisar morrer para permanecer vivo.