24 setembro 2007

A parte

Sem dor, pelo momento, não me reconheço no que foi perdido.

Hei de entender na dimensão do tempo, pela riqueza dos fatos e detalhes que nos diferenciam, que deveria estar aqui pela lamúria de uma triste descoberta, da traição composta pelo peso destes anos, o que devia ser chamado assim: por uma vida inteira!
Além, ou mais, sem desespero agudo, me apresento nú apenas sentimento, mesmo que leve, sinto um alívio próximo, até hesitante acato o esperado. Então, troco a conquista do que não foi possível para ir além do que imaginado, um respirar mais puro a inspirar sentidos, um olhar maduro mais valorizado. Reconheço, embora sofra, com sobrado medo, o que foi forjado pela mentira, e mantida vivo em cínico segredo, em troca, me solto livre do amargo gosto da bebida alheia, do desagradável tabaco, mesmo que não fume, do feliz adeus ao corpo, muitas vezes rígido, dos atos falhos que não se permitem retribuir afagos, por fim, é o fim da inconstância das opiniões reversas, de caras as avessas e de retaguardas, dos receios constantes agora fundamentados, do desconfiar correto que não foi tratado.

Sem dor, pelo momento, feliz me compreendo. E esta é só a primeira parte.

17 setembro 2007

Convidado: Solitude


Sol itude, originally uploaded by Camafunga.


ensolarado casarão de antigamente
que doura a tarde
e espalha reflexos nas manhãs
quantos passantes forjaram suas calçadas
quantos amantes suas camas festejaram
e a infinidade de enredos que abrigou
agora jaz sob um sol preguiçoso
enclausurado no crepúsculo
seu visitante solitário
lembra ali sentado
da sua própria sorte
ou quem sabe a sorte do sobrado
e seu olhar perdido
alcança na linha do horizonte
alguma coisa do futuro
se contrapondo a uma
infinidade do passado...

Luiz Tarciso Souza

12 setembro 2007

Entre bules e crenças


Bules, originally uploaded by Camafunga.

09 setembro 2007

História


Eu não creio em bruxas mas conheci uma outro dia.

Uma situação real há poucos dias vivida, fez-me lembrar o teatro. Não creio em fadas ou monstros, mas, desde o primeiro contato, tive certeza, estava diante de um caso. Um pouco, influenciado por suas histórias, de sovinice e alardeadas maldades, embora da, agora, defunta, bem além do preconceito, bastou sua mão semi-estendida, os dedos frios e curvados, a falta deles um aperto, para que eu recuasse assustado. No entanto, por consideração a filha minha amiga, o genro e um cunhado, acompanhei-a até o buraco.

Odeio, de qualquer forma, velórios, mas dos poucos que não puderam ser evitados, este foi o mais diferente, quem sabe dos mais bizarros. Além do público pequeno, da falta de um choro motivado, a aura que estava presente era mesmo de alívio, um alívio generalizado. A entrada uma coleção de fotos, de filhos, netos e enteados, todos sorrindo e vivos, num mural improvisado. Tinha mais foto que gente, poucos de corpo presente, a minoria amigos, mas também não pareciam sofrentes. Os diálogos em volta da tia eram sobre o clima e o dia, que não fora de nada apropriado, pois tivesse escolhido uma segunda, estava frio para sair tão cedo de casa, e afinal, aquele era feriado. Alguém fez um comentário breve, mais pessoal sobre a falecida, que era viciada em compras, em bingo e artesanato, mas nada mais interessante, afetivo, triste ou engraçado. Dado o rito por findo, o mortório encerrado, o defunto despedido, definitivamente encaixotado, foram todos para as casas aproveitar o tempo que restara. Antes porém um cuidado, algo que aos estranhos fez chocado, as filhas colocaram com jeito, leve, sobre o travesseiro da ida, sob a cabeça mais rígida a tal coleção de retratos. Todos sorriam apertados, e para sempre seriam lembrados.

Do que soube no dia seguinte, ou nem dois dias passados, que já haviam dividido a mobilia, as louças, as bebidas e os trapos, da casa grande vazia não ficara mais nem um sapato. Avareza será hereditária, ou foi mal criada esta gente? A verdade é quem nem fria as paredes, a casa estava alugada.

Fui visitar minha amiga, mas por outros e amenos motivos. Notei um entulho de sobras, peças por todos os lados. Quadros demais nas paredes, louças saindo do armário. Um piano que era tão fino parecia ali só jogado. Ainda era inverno este dia, mas eu estava atrasado. Pouco aproveitei da lareira e parti impressionado. Não era a mesma casa que conheci, a atmosfera cheirava a passado. Julguei estar exagerando, talvez mal impressionado, afinal eram as coisas da morta, não enfeites programados.

Menos de duas semanas passadas recebo um telefonema, era minha amiga de voz ainda mais embargada, em meio a um pranto cortado, pensei que era caso de morte, a mãe eu ja tinha enterrado, quem seria agora, alguém mais foi premiado? Não era material o sofrimento, notei pelo choro emocionado, era a casa que havia queimado, não sobrava dela mais nada. Mobilia, casacos e cacos, nem louças ou sequer sapatos, ficaram apenas umas fotos em um canto preservado. Eram fotos da cuca, bruaca. E eu, confirmei o antecipado, não creio em bruxas mas conheci uma delas outro dia.

07 setembro 2007

Quarar


Salve o sol!, originally uploaded by Camafunga.

E saiu o sol.

03 setembro 2007

Brincadeira de Criança


Estilingue, originally uploaded by Camafunga.