06 fevereiro 2012

Galinha e fim-de-semana

Este fim-de-semana hospedei amigos.

A dedetização programada foi requisito para que conseguíssemos permanecer em casa. Estava  inviável usar uma bermuda, o pulguedo subia em grupos pelas pernas  com predileção pelos tornozelos onde davam as primeiras picadas para avaliação de qualidade. Chamei a "Mosca" -  segundo sei - a melhor empresa de extermínio de pragas da cidade. Não era a primeira vez,  ainda mais nesta época quando o calor favorece a eclosão dos ovos e abre o apetite destas insaciáveis.
Tirados os cães da casa, faxina posterior realizada, vem a volta e a sensação de vencida a  batalha. Dá trabalho lavar todos os pratos, descobrir os eletrônicos, selecionar o que pode, ou não, ser consumido.
Dois dias, apenas dois - e também pela ausência das cadelas - as pestes voltaram mais fortes, com mais fome e pulando mais alto. O jeito é ligar novamente para a tal "Mosca" e ouvir: " isto é da biologia destes insetos, voltaremos para um repasse..", ou seja: se o mundo acabar para os humanos em 2012, vão sobrar pulgas para um segundo turno.

Meus amigos vieram para um aniversário de criança, e assim fizeram.

Comigo moram, além dos caninos, dois filhos e uma nora agregada, portanto, não é fácil em um apartamento de três quartos espalhar toda esta gente. Ainda bem que é dos antigos com peças grandes, mas, mesmo assim, até que outra moralidade se instale... que fique, cada um no seu quadrado. O mais moço dos rebentos não se importa de dormir na sala, para isso infla um colchão de ar e  por ali fica jogado. A pug voltou para casa, a louca da boston terrier mais agitada. Certo que acordarão, com a televisão ligada, ele a elas abraçados.

Assisti "Pelle, o Conquistador",  e muito ao contrário desta terra, fazia frio no Reino da Dinamarca.
O mormaço é insuportável, a roupa fica grudada, na rua só por necessidade o que diminui as chances de passeios. Também chove em pancadas, mas não amenizam a sensação de forno. Para não furar as paredes, e pela pressa de algum alívio, comprei um ar, de rodinhas,  climatizado... climatizado quer dizer: um ventilador que derrete gelo de um compartimento e espalha vaporzinho meio gelado. Trouxe  sacos! A autonomia propagada de quatro  evapora em duas horas apertado, mas, pelo menos meus convidados estarão mais aliviados.

Meus amigos chegaram atrasados com uma lembrança do aniversário - uma meiga, colorida e enorme galinha feita de balões amarrados (foto). Acho que vieram com fome, um, ainda "varado", traçou um lanche pesado em plena madrugada, mas eu não vi, tombei cansado... 

Tudo parece ter corrido a contento, pelo menos não faltou comida e entretenimento.

Despedi-me com a desculpa de "qualquer coisa...": poderiam ter ficado mal acomodados, mais anêmicos ou até estressados.

Esta coisa de saídas rápidas deixa algo a ser pensado. Certa vez um deles esqueceu um par de dentes que levou meses para serem desprezados, desta, esqueceram o mimo, que em dias estaria, vazio, desanimado. Não houve tempo para despedidas longas  portanto resolvi nem avisa-los.

Venta entre as chuvas. Batem portas, sacodem telhados e eu, pela janela, olhando do alto as grossas nuvens, refresco-me  mais do que pelo tal aparelho refrigerado. A galinha me olha de canto e penso:  mais uma coisa a ficar jogada... imaginando o falso bicho em piruetas voando longe, malabares avoado, concluo: porque não joga-la ao espaço. Pouco hesito, pendurado pela crista, largar os balões à liberdade. No entanto sou fraco em física e o objeto pende como pedra, reto da janela até a calçada, morto como um pesado suicida, direto, frio e sem graça. Ainda bem que ninguém percebe, apesar de morar no centro, é quase noite e ainda chove. Recolho-me para ajeitar a casa e o fim-de-semana, como eu, esta acabado.

Hoje é segunda-feira, meu filho sai cedo para algum trabalho. Eu consigo atrasar meu calendário e só pego no turno da tarde. Ele retorna breve e bate no quarto, me acorda curioso e me mostra o bem abraçado: "Pai esta galinha é nossa?".  Embora tenha negado, como ele também fez lá embaixo, os porteiros afirmam o contrário, viram o bicho chegando, viram o momento do despacho. Sem jeito, deixo a lembrança de um fim-de-semana agitado, até que, como o resto dos dias, fique aqui murchando ao meu lado.

5 comentários:

Ettiene Mattos Farias disse...

Ah Marcelinho, não sei se o mais engraçado é te imaginar comido por pulgas ou se é a cena da devolução da galinha!!!Depois dessa estou pensando que talvez meu apto seja adequado para receber visitas...

Marcelo Freda Soares disse...

Do Carlos Alberto Bandeira: Botei um comentário na hist´ria do fim-de-semana mas não consegui postar pois pedia um tal de URL que não é das minhas relações. Mas o que eu disse é que estas progredindo. Na época do homem-aranha não seria a galinha que seria defenestrada.

Maria da Graça Reis disse...

Oh Marcelo, ri muito do teu escrito tentando imaginar a tua cara quando vistes o caçula voltar abraçado à galinha balonística ( que diga-se de passagem, devia ser "uma obra de arte". Espero que as famigeradas pulgas tenham te dado alívio. Como sempre tua fina ironia me agradou muito.

Marcelo Freda Soares disse...

Quem chegou com a galinha foi o Pedro, quanto as pulgas parece que por ora elas se foram, só espero que não voltem.

João disse...

Já devias ter imaginado que as galinhas voam pouco mesmo, se atirar da sacada elas caem mesmo (risos)...escreves muito bem. Me diverti muito imaginando tudo. Um forte abraço!