22 outubro 2012

Pão com Atum

O ano foi 1982, que  de inesquecível teve o início do namoro com a  mãe dos meus filhos e a primeira viagem para o Rio de Janeiro.
Foi no janeiro, o mesmo que levou Elis,  fato que não determinou, mas que  tentava justificar à terceiros parte do comportamento e da cara de luto que mantive durante o passeio. Meu pai, que não era de abrir muito a mão, deve ter contabilizado o que custara levar toda a família para passar o fim-de-ano na cidade maravilhosa, subtraindo - com descontentamento - minha pouca emoção pelo investimento. Ficamos (mais eu do que os familiares)  em um bom apartamento. Pela longa permanência lembro bem,  da decoração, da cor das paredes, tipo de azulejos, luminárias, etc. Nem os fogos da virada ou  a novidade de uma praia de água salgada, nem  todas as possibilidades juvenis, conseguiram colocar-me muito à rua.  "Eramos": eu, meu humor e um  saco de pães torrados.

Antes gostaria de justificar duas coisas: 1.sempre gostei de pão torrado, e lá, em uma esquina, havia uma padaria com o produto sempre quentinho; 2. logo na chegada meu irmão foi confundido com um trombadinha;  e eu, acabei nu após ter perdido meu chamativo calção acetinado vermelho pelas águas de Copacabana, depois um susto por cair sozinho no Jacarezinho; e mais -  sol com areia... nunca foram a minha praia.

"Coisa de adolescente complicado-  esquisito, anacoreto e  estranho" foram alguns dos adjetivos escutados nas preocupadas falas entre meus pais. Bem, não se confirmaram. Não daquela forma, nem  naquele tempo. O que houve de diferente é o que me faz o que sou, tanto, que consigo até ter saudade da falta de humor, da revolta, das observações críticas, dos posicionamentos pessoais de não  deslumbramento. Logo, nada foi perdido, nem o contado investimento, ali era apenas eu com 18 ou 19 anos sendo construído pela farinha do pão torrado.

Meu filho mais velho, que regula comigo naquela idade, esta em Portugal. Vai passar alguns meses, e me parece bem. Talvez esperassem dele algo além do que estudar e ter escolhido comer atum quase todos os dias. Estão preocupados pela "falta de entusiasmo", pela visão crítica em estar em uma Europa complicada, e, principalmente, por não estar fascinado. Não sei dos condicionantes pessoais, mas conheço sua especial personalidade, mais do que isso, consigo compartilhar suas idéias.
Talvez ele não tenha ficado, nem precise ficar,  nu no mar, nem tenha visto alguém querido ser humilhado, mas, assim como foi comigo, acredito que venha a ter muito o que aproveitar pela frente, e  sinceramente, atum, além de combinar, é melhor do que pão torrado...


Para o Pedro


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