Travessia
Olhar para os lados, ambos os lados!
Pensei que tivesse entendido, mas as experiências passam e as lições não se completam.
Minha avó calma, mas ainda titubeante, tentava dar métrica a decisão do melhor momento. Atravessar ou esperar? Complexa é a divisão do tempo. Como compreender entre ficar parado ou correr o risco de cruzar de uma vez e rápido? Carros, seres com vida incorporada, eram mais céleres e traiçoeiros, porque então eu, pequeno e nada máquina, teria que usar os freios?Tempo, outra vez o tempo, até que ritmo, visão e momento se associassem para poder deixar de lado as trêmulas mãos de Parkinson. Deste antes, só queríamos chegar ao outro lado. Ela pela cautela, eu pela ansiedade - opostas, mas semelhantes dificuldades.
Um problema, que não tem a ver com a chance de escorregar em pedra lisa ou o de ser atropelado, algo diferente e distante mas que remete a mesma identidade. Travessia.
Tudo parece árduo, obscuro e complicado, mas é simples, e novamente, só preciso chegar ao outro lado. Nem tanto, dias se passam e fixado os olhos, permaneço parado.
Há uma questão sem resposta. Crescem as imagens distorcidas de monstros não bem caracterizados. Seriam seres loucos, maus e desatinados?
Tremo porque não respeitam minhas pernas, e suspiro pela saudade da tal senhora e de suas mãos - que não existem mais em forma; até reencontrar a lição do tempo:
Calma, meu filho, calma... é só olhar para ambos os lados.
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