Um dia abri um buraco na grama do jardim - quando ainda morava em casa que o tinha - e protegidas em sacola plástica embalei minhas memórias.
Da janela espio ansioso a passagem do tempo, tento, sem atenção, decorar a matéria: os corpos são feito de átomos; nêutrons e prótons circulam pelo quarto.
Se o dia for colorido correrei para a rua, se nublado, deito para pensar na vida. Se chover convido meu irmão para um banho no pátio.
Qual a hora para a primeira namorada? Saberei criar meus filhos? Aprendi um instrumento.
Minhas canções são antigas para a idade, despertam sentimentos que ainda não comovem.
O tempo passa na janela, outras lições ficam dispersas. -Não tão rápido, não tão rápido... já sou precoce!
Desde o dia que fechei o buraco com as minhas memórias, elas surgem assim: soltas, indivisíveis como os átomos perdidos no meu quarto.
2 comentários:
Peguei carona nessa viagem imemorial. De alguma forma todos tentamos guardar nossas memórias num lugar secreto e seguro. Gosto de pensar que as minhas ficaram reservadas em um velho corote abandonado lá na fazenda onde passei a minha infância. Só consigo reencontrá-las quando chove e abre o sol porque meu velho corote está escondido sob a terra molhada em uma das extremidades da curvatura do arco-iris...
Marcelo,imaginei as lembranças que saem como sopro suave,em uníssono com afetos mais bonitos da vida!!Lindo ,amigo!Graça
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