07 agosto 2012

Tempo e matéria

Um dia abri um buraco na grama do jardim - quando ainda morava em casa que o tinha - e  protegidas em sacola plástica embalei minhas memórias.

Da janela espio ansioso a passagem do tempo, tento, sem atenção, decorar a matéria: os corpos são feito de átomos; nêutrons e prótons circulam pelo quarto.

Se o dia for colorido correrei para a rua, se nublado, deito para pensar na vida.  Se chover convido meu irmão para um banho no pátio.

Qual a hora para a primeira namorada? Saberei criar meus filhos? Aprendi um instrumento.

Minhas canções são antigas para a idade,  despertam sentimentos que ainda  não comovem.

O tempo passa na janela, outras lições ficam dispersas.  -Não tão rápido, não tão rápido... já sou precoce!

Desde o dia que  fechei o buraco com as minhas memórias, elas surgem assim: soltas, indivisíveis como os átomos perdidos no meu quarto.




2 comentários:

tarciso disse...

Peguei carona nessa viagem imemorial. De alguma forma todos tentamos guardar nossas memórias num lugar secreto e seguro. Gosto de pensar que as minhas ficaram reservadas em um velho corote abandonado lá na fazenda onde passei a minha infância. Só consigo reencontrá-las quando chove e abre o sol porque meu velho corote está escondido sob a terra molhada em uma das extremidades da curvatura do arco-iris...

Anonymous disse...

Marcelo,imaginei as lembranças que saem como sopro suave,em uníssono com afetos mais bonitos da vida!!Lindo ,amigo!Graça