18 janeiro 2008

Letras fugidias

As letras aparecem e desaparecem da tela como se tivesse testando o teclado. As idéias vem projetadas em frases disfarçadas, sempre camufladas para que cínicamente sejam descobertas sem que seja explicitadas. O comentário era de que meu português era estranho, estranho é minha fala e meu pensamento, estranho é ainda ter que ficar sussurrando o que há muito já devia ter sido um grito. Então, preso em alguma parte, minha, mas que nem reconheço, me calo a espera de novo ouvinte, leitor, terapeuta ou técnico em criptografia. As letras somem e reaparecem em outra ordem, eu só mantenho o que sinto e tento inventar caminhos diferentes para a expressão de um único e profundo sentimento. Tento. Vem a mente as idéias puras transformadas em imagens abstratas que nem sempre mantém a dureza da realidade. É, as letras somem, as imagens se confundem, assim fica certas vezes minha escrita, na linha entre o retido e o declarado. Melhor junta-las a tirar da voz do que deve ser falado, ou desistir e de dar razão ao que não mais será resgatado.

04 janeiro 2008

Ando

Ando cansado. Não cansado pelo físico que ora melhor do que nunca me fortalece, nem pelo espírito que me acode e no momento necessário vem a mim e restabelece. Ando cansado pela vida, pelo que busco ou que tenho por convívio, pela falta de respostas aos mais simples, comuns e delicados dos princípios. Ando cansado, mas ando, e neste caminho me abalo, passo por trajetos nunca novos, quase sempre, conhecidos, são cenários mal cuidados, percebo que as vezes ando em círculos, ou são todos tão iguais que não divulgo, mas de qualquer forma vou e sigo. Tenho mais gás do que pensava, há reserva em combustível, meu solado é de borracha, chuto pedras no caminho, tem mais gente que acompanha, alguns buscam a mesma sorte, outros passam sem esforço, mas preferem seus enganos. Estou cansado mas não paro, nem que seja até outra vida, nem que me encontre em outro plano.