Nada me dá mais prazer do que perceber que existe um outro, mais rico e sapiente do que o "eu" do dia-a-dia e que, por vezes, como um espírito, manifesta-se em pensamento, texto ou fotografia.
Houve um tempo, dentro da minha rígida concepção de finitude, que releguei o hábito dos livros. Os traços de compulsão e obsessividade confundiam meu desejo dizendo: "se um dia tudo se apaga, vale a pena gastar exíguo espaço em tema único ?"... seja pela morte, pela senilidade ou por Alzheimer, certamente um dia serei zerado. Não sei se acredito em vida após a vida, mas vi tanta mente brilhante diminuir a chama a ponto de não mais reconhecer os filhos, não entender em que mundo vive ou até qual o caminho do banheiro, que desconfio, e sei que mesmo pulsando um coração pode dissociar-se da mente.
Escrever é diferente, mesmo dizendo bobagens, deixa marcas e imortaliza -atualmente até que o servidor da web seja desligado- mas são os textos milenares, embora as vezes mentirosos e falsos, que orientam muitos dos costumes, hábitos, nossas escolhas, amores e crenças. Escrever pode nos manter além da memória e da carne, mesmo que não mais nos olhem.
Então por que voltei a ler?
Talvez pela nova dosagem da paroxetina; por conseguir enfrentar os medos; por perceber que embora curto ainda há tempo, ou, e é mais provável, por poder associar o prazer da vivência alheia e do imaginário e, sem perceber, poder roubar elementos para o que ainda resta.
Nada me dá mais prazer do que perceber que existem outros, mais ricos e sapientes dentro do o "eu" do dia-a-dia...
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