Ontem a chuva era tanta que a pequena distância daqui até a lancheria significava algo como atravessar o Canal da Mancha. Alguém sob a mesma marquise sugeriu que tirasse os calçados, ou então que fosse a nado. Resignado aceitei que os dez minutos que faltavam para o fechamento do estabelecimento estariam vencidos pelas intensidade das águas.
Fome, muita fome, e a tristeza de perceber que logo ali encontraria o que quisesse entre pães, queijos, doces e salgados. Desconsolado voltei para o quarto e tentei enganar o estômago com que havia: coca-cola choca e duas fatias de pão torrado. As horas foram passando, e na medida contrária ao roncar das vísceras, diminuíram as trovoadas. A tormenta, enfim, estava acalmada, e volta a possibilidade da fazer tele-chamada.
Tarde, seria muito tarde para pedir alguma comida, o dia já virava, e a com as horas, a certeza de uma indigestão programada. Meu médico de infância dizia: no estômago é sempre escura madrugada - mentira! - mas não resisti: "Um bauru especial sem alface!" e...quanto tempo para a chegada? - "Cerca de duas horas, senhor... aguarda?". Que venha a merenda, a esta altura, mesmo que fria ou até molhada!
O sono empurrado pela bebida e por um vídeo todo picotado pelas chamadas do trabalho, para até que - pontualmente e como anunciado- chegar-me um pão recheado de molhos, gorduras, ervilha, milho e um pouquinho de estranha carne. Duas e meia da manhã, sem tempo, engulo rápido. E olha - nem custou barato!
O resto foi de sonhos coloridos e gazes; em alguns momentos vivi o apocalipse ou quase. Não sou de guardar detalhes, mas divido aqui algumas imagens:
Tentei atravessar a porta; morava em um sobrado alto e pobre; canos pingavam e barro; correram-me de casa onde esqueci as malas, nelas deviam estar os cobres, meus medos, desejos e meus sapatos. Odeio sonhar com descalços; então elevo a perna para arrombar o marco e em posição marcial meio desequilibrado, voo como um ninja desajeitado na ultima lembrança até despencar para o lado.
Caí mesmo despertando tonto sem entender o fato: aquilo era sonho ou ja estava acordado?
Adeus lanches noturnos e refrigerantes cafeinados ou manterei pernas inquietas, azia, pesadelo e quedas.
2 comentários:
Mas Marcelo, q lanche é esse q demora cerca de 2h pra chegar?? Me avisa pra eu não chamar deste...uehuheuhee
Sanata.. e não foram duas horas mas uma hora e quarenta e cinco minutos.
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