Quando não havia maiores perigos...
Deixei a porta aberta.
Adoro o muro vazado que permite que o vento assovie enquanto consigo ver quem passa e se aproxima. A grama neste jardim tem cheiro de tempero e a terra escura a textura de um carinho. O espaço é pequeno mas cabe boa parte do meu imenso mundo, cavo um buraco para esconder o meu futuro. Umas moedas, uma foto com minha família, um recorte de jornal e um frasco de remédio. Forro com a relva recortada em bloco esperando que as raizes envolvam e preservem para muito este tempo.
Que entre, apenas quem me interessa.
O sorriso de minha mãe é terno e verdadeiro, mais sincero que a memória distraida, o cuidado dos meus fizeram que eu chegasse até aqui, com todas as qualidades e angustias que moldaram minha vida. Tenho irmãos e agradeço por isso. Um, pelo menos, dividirá este pensamento. Não voltei ao jardim nem descobri meus preservados. As moedas foram poucas e não vingaram em frondosa arvore da fortuna, o remédio no entanto é desnecessário, e as noticias são efêmeras como a importância de datas. O muro deixa que passe a noção de tempo e sibila a nostalgia pemitindo que veja quem me precede.
Quando não havia maiores perigos, deixei a porta aberta, para que entrasse, apenas quem me interessa.
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