Agora percebo até onde seria possível, muito antes de ser o que vim a ser, descobri como terapia o desbravar de uma cidade maior e de sua nova e estranha cultura. Os meios justificavam os caminhos e cada fim-de-semana era como uma terapia completa, e foi assim que me encontrei estando perdido num mundo que parecia tão grande e tão mais completo, um mundo cheio de possibilidades e enfrentamentos, onde só fugi das regras e cresci vencendo as impossibilidades, os preconceitos, as normas e a moral que pareciam ir se perdendo na estrada. Foram anos de ruas e esquinas, todas com nomes difíceis e que trocam de repente quando nos acostumamos, metrópole ao mesmo tempo suburbana em sua vida alternativa e louca, coisas que só poderiam ser apreciadas se desacompanhado, meio bandeirante em estado alheio, atrás das minas dos sentidos, dos desejos e da juventude em idade. Porém a mesma estrada jogava as conquistas na volta por tanto tempo perdidas até entender, pelo amadurecimento, que a riqueza estava dentro do personagem e não no cenário, até descobrir que o potencial era da comunicação e sensibilidade que permitia compreender os sinais que poderiam estar ali ou em qualquer parte do mundo. Então, aos poucos, fui construindo aquela metropole dentro de minha realidade cotidiana, transgredi em minha casa, dei a curva em minha vida, vivi a própria cidade imaginada e esqueci, por não ter necessidade, de voltar a visita-la.
Retorno agora num momento de reavaliação e comprovo, não existe outro, consigo carregar aquele mundo e seu potencial onde, ou com quem, quer que esteja. Muito bom saber disso, meu caminho sera ao mesmo tempo mais longo e mais próximo, pois optei por fugir de estradas e falsos atalhos a me construir internamente e hoje percebo não sou o mesmo, nem minha relação com estas imagens. Porém, aproveito e digo, que ninguém tem o direito, nem a menor capacidade, por ser interior, por necessitar de cultura apurada, vivência, percepçao e sensibilidade, de furtar esta conquista. Mesmo que tentem, já é minha.
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