13 novembro 2006

Chiste

Diz-se do vinho, mordaz, aquele que tem garra, é incisivo, sem no entanto chegar a mostrar o defeito de um sabor áspero (dicionário do enólogo, tirado de algum lugar da internete).
Se fosse, eu, a bebida, talvez assim me classificasse, mas, a origem do meu mordaz é mais sonora e vem de mordaça, como fuga, uma explosão, um meio. A forma como as palavras fluem, mais do que isso, fogem entre frases não previstas ou menos pensadas ou elaboradas. Claro que vai ai um tanto de malícia acumulada, mas é pelo silêncio forçado, pelo reforço ético imposto, pelo rancor disfarçado que aprendi fazer a dissimulação pela graça, que surge, pela escapadela das malditas, ou bem ditas frases, ou ideias, ou imagens. A sátira sobrepõe ao medo, o inconsciente não é covarde. Mas, também não é verdade, que sarcasmos nem sempre cheguem ao recacho, a muitos já fiz ofendidos, mas, penso, como o vinho, escondo maior defeito e sobra apenas o aguado de um agravo. Um humor disfarçado, que pode ser cortante, mas poupa parte da verdade.
Se fosse vinho brindaria ao fato, já fui mais ácido a me corroer por dentro, prefiro o humor, mordaz, adeus mordaça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Notei a tua falta de humor atual nos escritos, mas para quem te conhece pessoalmente sabe que isso é só literatura e humor.