21 outubro 2006
Pesadelo
Adentro com desconfiança, a mesma de quando percebi, pela primeira vez, as paredes verdes que cercavam a escada. Não sei que idade teria, desta, ou das outras vezes, nem de quantas tive repetidos sonhos. Eram de estar ali, e me vestir descalço, enquanto, atrapalhado, descia em busca ansiosa a um cimentado pátio. Fixou-me mais que ida, a falta dos sapatos, imagem incompleta de quem os perdia a escada. Noutras, os queria em combinadas cores, mas o desconforto havia de pés abandonados.
Não quis voltar ao prédio, mantenho-o em imagem como em remota era, há um receio que o veja e ainda assim estranhe. Se sou pequeno hoje, antes o mundo era o gigante. Penso que possa me perder em sonhos, por corredores longos, a desafiar o medo. Preciso de portas que não correspondam a salas, procuro espaços que não me sejam óbvios. Por isso, mantenho o coração batendo, rápido e crescido, e olho acima um muito alto teto, adentro, pé-direito que lâmpada alguma ilumina inteiro.
Esqueci, entretanto, o elemento humano. Lá desciam crianças feito um rebanho. Escada longa e escura não nos leva a nada, a um pátio apenas, área acinzentada. De tão medonhos e estranhos,quase que pequenos ratos, empurram a frente e passam sem reparar nas faltas, afinal, é minha, a de não vestir direito, de sentir-me lento para sobrepor o intento. De poucos guardaria o nome, tampouco rostos ou sentidos intensos. Lembro apenas da escada entre paredes verdes, da pressa, do recreio e do receio entre meus pés largados.
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